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domingo, 13 de novembro de 2011

"Só eu, que tenho mais alma, tenho menos liberdade?"

Pedindo emprestado as palavras, o Blog hoje fala de LIBERDADE!


Liberdade?

Ai miserável de mim e infeliz!
Apurar, ó céus, pretendo,
já que me tratais assim,
que delito cometi
contra vós outros, nascendo;
que, se nasci, já entendo
qual delito hei cometido:
bastante causa há servido
vossa justiça e rigor,
pois que o delito maior
do homem é ter nascido.
E só quisera saber,
para apurar males meus
deixando de parte, ó céus,
o delito de nascer,
em que vos pude ofender
por me castigardes mais?
Não nasceram os demais?
Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram
como eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças
que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma,
ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas
corta com velocidade,
negando-se à piedade
do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma,
tenho menos liberdade?
Nasce a fera, e com a pele
que desenham manchas belas,
apenas signo é de estrelas
graças ao douto pincel,
quando atrevida e cruel,
a humana necessidade
lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto,
tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas,
e apenas baixel de escamas
por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira,
num medir da imensidade
co'a tanta capacidade
que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio,
tenho menos liberdade?
Nasce o arroio, uma cobra
que entre as flores se desata,
e apenas, serpe de prata,
por entre as flores se desdobra,
já, cantor, celebra a obra
da natura em piedade
que lhe dá a majestade
do campo aberto à descida:
só eu que tenho mais vida,
tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão
um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito
pedaços do coração.
Que lei, justiça, ou razão,
nega aos homens - ó céu grave!
privilégio tão suave,
exceção tão principal,
que Deus a deu a um cristal,
ao peixe, à fera, e a uma ave?

MONÓLOGO DE SEGISMUNDO
(LA VIDA ES SUEÑO, Ato I, Cena I)

de Pedro Calderón de la Barca

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Nada de "minino infantil"

Depois de um tempo sem um bom motivo pra escrever, eis que abro o jornal e vejo essa informação:


Primeiro, fiquei super animanda em ver menin@s tão pequenos produzindo vídeo (ou cinema, por que não?). Depois, ao ver o resultado final, não tive como não me animar. Meu povo, nem eu, grandinha desse jeito e com graduação em jornalismo, faria algo assim, tão cuidadoso. Pra vocês verem como a comunicação pode ser bem mais democrática!

Deixando de lado a parte institucional do vídeo, o resultado é "morto de joiado", como diria o "poeta cearense" Falcão.

Vamos ver?
Nesse link, o vídeo final.
Aqui, o Making of.

domingo, 9 de outubro de 2011

O amor em animação





Invention of Love, 2010

Não preciso comentar obra de arte tão fabulosa!
Hoje, o blog só apresenta este Mimo!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Ele adorava a Ku Klux Klan

Observe a exaltação da KKK no cartaz do filme
Resolvi fazer um curso de cinema e vídeo, na Casa Amarela Eusélio Oliveira, ligada à Universidade Federal do Ceará. O curso começou meio mal, com pouca metodologia, mas tenho pescado boas contribuições para minha formação.

Eis, que na aula de hoje, surge este grande filme. O "grande" tem vários sentidos, inclusive a construção das cenas, incluindo ângulos, elementos que compõem, expressão dos atores, dentre outros.

O filme relata as vidas de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos – os Stonemans, nortistas pró-União e os Camerons, sulistas pró-Confederação. O assassinato de Abraham Lincoln por John Wilkes Booth é dramatizado no filme.

O longa é de 1915 e chama-se O Nascimento de uma Nação (The Birth of a Nation, originalmente). O diretor norte-americano Thomas Dixon teria feito uma linda obra se não fossem os atores brancos com caras pintadas de preto e as representações idiotizadas. Vale a pena conferir também a forma como a Ku Klux Klan (KKK) é retratada de maneira heróica, salvando todos da violência dos negros.

Falando popularmente, o "descaramento" é tão grande que chega a incomodar quem assiste. No filme, a organização racista surge como uma "brincadeirinha" para apenas assustar os negros. Eles também são taxados como irresponsáveis, sexualmente violentos.

Assim, com a ajuda da comunicação (cinema, rádio, impresso, publicidade...), vamos construindo nossa noção das coisas e das pessoas, inclusive os rótulos.

Se interessou e quer ver mais sobre o filme? Clica aqui.
Para ver o filme, clique aqui.

Mimo do Blog
Se você quer saber mais sobre como discutir o tema Racismo em oficinas ou na própria sala de aula, veja a dica do Blog:

A Cor da Cultura é um projeto do Canal Futura. Recomendo o conteúdo do site www.acordacultura.org.br.

Os meus links preferidos são Mojubá e Heróis de Todo o Mundo. Veja estes também!

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Na dúvida, diz que fui por aí

Ontem, uma certa negra, velha, de nome Joana, me pediu pra deixar de ter dúvidas. Carregamos uma vida cheia de dúvidas, isso é fato. Mas aí eu penso, até que ponto as dúvidas podem ser positivas ou negativas? Até que ponto podemos deixá-las de lado?

Este é um post angustiado, cheio das benditas dúvidas. A negra me disse que dúvida todo mundo tem, mas que devo passar por cima delas. Na verdade, o que a ela me disse foi: “desencana!”. Ela diria assim, desse jeitinho, se soubesse o que o termo significa.  

Essa conversa me fez lembrar a Bossa Nova, com seus “beijinhos e carinhos sem ter fim”. Aproveitando o ensejo do “deixa de dúvida”, ouço Nara Leão cantando “Diz que fui por aí”,


segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Por que não falar de amor

Ok, também posso falar de amor. Por que não falar? Todo mundo fala, todo mundo tenta, pelo menos. Uns dizem que não se deve falar, que não existem palavras e todas essas teorias vão se consumando em clichês. Como fugir deles?

Nesses dias coloquei em uma das minhas páginas um link do vídeo de uma banda chamada Limão com Mel. Pra quem não conhece, esta é uma banda de forró estilo balada-romântica que resolveu, há algumas décadas, lançar um cd acústico. Ou seja, as músicas que já eram “meladas” (digo, melosas), ficaram ainda piores (ou melhores, como queira). Aqui está o link para os(as) curiosos(as).

Pois bem, rapidamente alguns foram se manifestando, se identificando e até arrisquei, por mensagem particular, dar conselhos sentimentais aos que começavam um namoro. Ora mais, veja só.

É como se diz por aí: o amor é lindo, é brega, dá trabalho, mas a gente gosta. Chico Buarque dá a dica em um de seus refrões: “Façamos, vamos amar!”

Mimo do blog:
Escrevendo estas linhas, lembrei de um poeminha do Álvaro de Campos que diz:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor, 
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor, 
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram 
Cartas de amor 
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia 
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje 
As minhas memórias 
Dessas cartas de amor 
É que são
Ridículas.
 (Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Casei



Nesses dias sonhei em casamento. Não que eu queira me botar vestida de noiva, num altar, recebendo bênçãos de um padre. Sonhei que eu perdia a hora, não fazia as unhas, via gente que nem conhecia me dando parabéns. Segurava uma garrafa de champanhe (ou cidra) que me avermelhava os dentes.



Sonho maluco, só de ser casamento. Acredito ter sonhado isso por que ando desejando “casar”. Casar com a liberdade, com a vida a dois e a vida independente. Sonhei com dividir contas, amor, brigas, alegrias. Sonhei que a festa pouco importa e que as pessoas se preocupam demais com isso. Sonhei que preciso fazer as unhas imediatamente, mas não necessariamente para casar. Sonhei que esquecia da maquiagem de noiva, umas avaliadas por aí em até duzentos reais, com direito à prova. Sonhei realizando o sonho do meu pai pra mim: casar.

Sonhei mudar de vida, sonhei dormir brigando e acordar juntinho. Sonhei me preocupando em colocar o status  “casada com...” no facebook e estranhando dizer por aí que não sou mais “solteira”. Sonhei que não sei beber champanhe.

Completar cinco anos de namoro - acho - mexe com a cabeça da gente.